terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ralação

Era nesse estado que a palavra acima, essa aí do título, descreve precisamente que eu estava nos últimos dias. Uma ralação necessária e que, espero, vai trazer bons frutos.

Obviamente, eu não estava literalmente me ralando, assim como alguns colegas do Cordon Bleu fizeram durante a primeira parte do nosso curso. Aliás, eu achei que teríamos gente se machucando mais feio do que atualmente houve. Bom, melhor assim.

Minha ralação foi no sentido figurado mesmo. Sempre soube que trabalhar e estudar ao mesmo tempo é tarefa para poucos e aqui em Paris sinto isso na pele.

Quem é meu amigo no Facebook (bem, imagino que a maioria das pessoas que chega até este blog vem do FB) sabe que de vez em quando eu faço check-in pelo meu foursquare no Le Méridien Étoile. Não é porque eu estou vivendo a vida que pedi a Deus e morando num hotel legal, mas sim estou trabalhando lá para as pessoas que querem ter uma estadia bacana num hotel mais bacana ainda. 

Por enquanto, eu trabalho lá como extra. E o trabalho de extra é fazer tudo aquilo que os funcionários fixos (no meu caso, os da cozinha) não querem ou não têm tempo de fazer. Por exemplo: 5 kg de cebolas pra descascar? Manda pro extra! 1 saco de batatas pra cortar em cubos? Tem extra trabalhando hoje? Então manda pra ele!

E foi assim que começou minha ralação profissional num dos restaurantes do hotel, o L'Orenoc. Meus primeiros dias lá foram assim: descasca isso, lava aquilo, corta aquilo lá, fica de olho nisso... e assim foi. Começo de novato, não importa qual a experiência que tem, é sempre igual.

Até o dia que me deram meu primeiro teste mais técnico: tournear umas 40 alcachofras. Fiz, e a contento do chef. Depois, veio um peixe chamado de Omble Chevalier, cuja tradução para o português eu não achei, e mostrei que sei bem como preparar peixes. Aí começaram a me olhar com outros olhos lá no hotel. Dia seguinte: um fillet mignon inteiro. No outro: preparar 6 patos para assar. E assim foi até eu começar a trabalhar meio que fixo na estação mais importante da cozinha quente: carnes e peixes. E o incrível é que eles confiam esses trabalhos pra mim mesmo eu sendo o mais novato entre todos lá. 

Mas pensam que foi fácil? Hahaha...não, não foi.

Como estudante de gastronomia, a coisa já não é tão intensa, mas obviamente requer atenção. As últimas duas semanas me desligaram um pouco do blog porque foi quando tivemos nossas provas finais do curso, tanto escrita como prática.

Mas antes de falar sobre isso, porque não um resumão sobre o curso básico? Apesar de já ter experiência na área, eu achei muito, mas muito importante mesmo rever todas as bases da cozinha. Então eu me esforcei em todas as aulas pra aprender as melhores técnicas para fazer tudo e aprimorar cada vez mais o conhecimento da melhor culinária do mundo. Nas aulas práticas, sempre me esforcei para conseguir o melhor prato que eu consiga produzir. Nunca me interessei em ser o primeiro a terminar só porque consigo cortar coisas mais rápido que os outros, mas sim em conseguir fazer o melhor molho, a melhor cocção, a melhor apresentação que eu posso fazer. Isso valeu muito a pena e eu acho que meus professores perceberam isso.

Enfim, as provas foram razoavelmente fáceis pra mim. Estudei conceitos e decorei receitas pra prova escrita e fui bem. Para a prova prática, tudo o que eu tinha que fazer era estudar 10 pratos que possivelmente poderiam ser preparados no dia. Como já é hábito, dei uma olhada em todos, revi os processos e as técnicas e sinto que me preparei bem. No dia da prova, chego na sala e no meu posto de trabalho estão todos os ingredientes pra fazer o quê? Um estrogonofe! Hahahaha....meu sorriso na hora deve ter sido enorme, afinal estrogonofe é, de longe, o meu prato favorito de TODOS os tempos! Junto com ele, era servido um arroz pilaf com brunoise de legumes. Brunoise, pra quem não sabe, são mini cubinhos simétricos de legumes.

Esta é só uma foto de exemplo de algum outro aluno do LCB, o meu estrogonofe ficou melhor que isso aí!
Fiz no tempo certo, ainda tive tempo de sobra pra fazer minha prova técnica que era glacear e caramelizar mini cebolas. Quando terminei e "empratei", o Chef Marc Thivet, que supervisionava nossa sala, passou pelo meu prato e disse: "Impecable!". Aí sim saí confiante!

E muita gente da escola mesmo diz pra mim: "Ah, mas você já tem experiência então é óbvio que é muito mais fácil, não é???".

E eu respondo: fácil não é. Pra ninguém. E quando se ama muito o que se faz as coisas não ficam mais fáceis, o que muda é que você faz qualquer coisa com tanto prazer que as pessoas as sua volta ficam com a impressão de que você é mestre nisso.

Ainda sim, a ralação é a mesma. Ralo, e ralo muito. Mas o melhor de tudo é chegar em casa completamente feliz por ter encontrado um métier que me faz sentir prazer em trabalhar. Dificilmente você vai me ver chegar do trabalho ou da escola sem um sorriso no rosto. 

: )


5 comentários:

  1. Filho, estou absolutamente feliz com cada palavra tua que li. Eu não esperava nada menos de vc. Vc é sensacional. Me lembro de sempre te dizer: não precisa ser o melhor do mundo, mas faça sempre o melhor que vc pode fazer!!! Te amo... bjo

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  2. Vc me emociona, filho!!!!! Parabéns de montão!!! "Impecable"!!!! Te amo

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  3. Rodrigo, tô adorando o blog.
    Seu perfeccionismo torna tudo muito mais difícil, por mais experiência que você tenha. Isto não é um palpite: é o compartilhamento de uma vivência de meio século, na qual procurei pelo menos manter um padrão de qualidade extremamente alto.
    A gente sofre... mas no final vale a pena, né?
    Sucesso! É isto que você vai ter.
    Bjokas da "Tia"

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  4. Menino,estou cada vez mais encantada com vc..Tenho certeza de que será grande,pois aquele que ama o que faz já é maior..Um abraço e minha admiração.
    Tia Regina
    ( amiga de seu pai de muitos anos do phoenix)

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  5. Estou babando aquicom sua ralação, Rodrigo! Talento é o que não falta, nem pra cozina nem para as letras. Parabéns e sucesso!
    Tia Sandra
    (também amiga do Rui de longa data)

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