quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Vida de Dona Maria

Todos conhecem o famoso Zé Ninguém, certo? José da Silva Nenhuma Pessoa (tente achar um sinônimo pra "ninguém"!), apesar de ter tentado muito, nunca chegou a lugar nenhum. E é por esse motivo que nossos pais, família e professores fazer o possível e impossível para compreendermos o quão importante é não ter seu nome atrelado ao pobre Zé. Ele é a imagem criada para designar a pessoa que não tem ou não alcança objetivos profissionais e pessoais.

Agora, ainda pensando em imagens. Para você, quem é a Dona Maria? 

Dona Maria, para mim, lembra aquela vovozinha que faz doces e bolos, que sempre fala que os netos estão magros demais e que as mães não os alimenta direito (na verdade, isso me lembra mais Dona Alice, minha avozinha...e que saudade!). Também lembra aquela mãe de 7 filhos, que lava, passa e cozinha em casa e ainda trabalha fora para cuidar da família, uma verdadeira mãe multifuncional. Ou ainda aquela senhorinha mais velha que ainda dirige, geralmente devagar e meio sem prestar atenção, e que recebe xingamentos quase que sempre referentes a largar o volante e ir lavar roupa. Enfim, vocês conhecem o protocolo de xingamentos brasileiros contra mulheres no trânsito!

Mas, não estamos aqui para discorrer sobre a vida de um personagem do nosso imaginário, mas sim o resultado desse brainstorming rápido e seu impacto na minha vida.

Acho que quando eu decidi trabalhar em cozinha, eu acho que automaticamente entrei no estilo de vida de Dona Maria. Afinal, cozinhar é uma das tarefas dessa senhora. E, por algum motivo, Dona Mamá (pros íntimos) resolveu me passar alguns de seus conhecimentos da vida.

Acreditem ou não, sou quase bom em lavagem de roupas, tanto à mão como à máquina. Roupas brancas então....nossa! Sei deixar de molho, tirar algumas manchas e deixar roupa cheirosa!

Outra habilidade totalmente fantárdiga: costurar! Tapar buracos em calças? Você ficaria impressionado(a) se visse uma calça jeans que eu remendei. Fazer barra em calça? Fiz pela primeira vez anteontem e ficou bem boa! Boa parte do que aprendi foi olhando minha mãe fazer quando eu era pequeno.

Passar roupas? Opa! Minhas roupas da Cordon Bleu estão sempre impecáveis.


E cozinhar....ah, isso eu não preciso nem dizer né? 

Mas, ao contrário de Dona Maria, eu sei dirigir, e até que bem!

Eu acho que aprendi a dar mais valor ainda a essas coisas depois de ter aprendido como fazer. Conhece aquele tipo de gente que se gaba por ter lido um livro do Dostoiévski 10 anos atrás? Então, eu sinto que ser um dos poucos homens que lava, passa, cozinha e costura tem mais relevância que ter lido um livro que pouco mudou minha vida e do qual as passagens eu nem me lembro mais.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cabisbaixo

Calma, cocada! Não sou eu que estou assim não. Muito pelo contrário, meu mês e alguns dias em Paris até agora foram muito produtivos. Estou na metade do meu curso básico no Cordon Bleu, vendo e aprendendo várias coisas sobre gastronomia francesa; moro num lugar perto da Tour Eiffel; e logo mais começo a trabalhar como extra num hotel da rede em que eu já trabalhava em Dublin. Marravilha, como diria Claude Troisgros.

Mas cabisbaixos andam os europeus, de um modo geral. Não é a crise no bloco comum, iniciada pelos gregos e que se alastrou por Irlanda, Portugal e quase quase Espanha que faz com que os cidadãos do velho continente descansem seus queixos sobre o topo do osso esterno. O Rock in Rio ser no Rio, e não em Madrid ou Lisboa, também não é o que influencia esse comportamento europeu.

Na verdade, o motivo pra mim não interessa. O fato é que é só você sair na rua e olhar para as pessoas: sempre caminhando com o olhar voltado para o chão. Não, aqui não é como o Rio de Janeiro onde bueiros explodem ou a zona de conflito no mundo árabe, onde as pessoas pisam em ovos para não pisar em minas terrestres.

Todos os dias, quando piso na rua, percebo que se eu não estou olhando pra frente e prestando atenção nos françolas, eles não me vêem e quase trombam em mim. Mesmo com uma pesquisa de não sei onde que sugere que pessoas que andam pelas ruas olhando para frente tendem a ser mais criativas e expressivas, os europeus geralmente preferem olhar para a calçada. Olhar para os dois lados da rua antes de atravessar, então, esqueça!

Estariam eles procurando moedas? Notas de euro?

Estariam eles procurando algo novo para comer, a exemplo dos escargots?

Enfim, eu posso estar muito enganado, mas não me lembro de pessoas cabisbaixas no Brasil. Seria o constante estado de alerta em que caminhamos nas ruas de São Paulo, por exemplo, que nos deixa sempre de olho em tudo?

Cá está um registro de algo que eu reparei há muito tempo e nunca comentei com ninguém. Olhe ao seu redor quando estiver na rua e repare. E se você achou que foi inútil perder seu tempo lendo estas linhas até aqui, pense sempre que você pode usar essa informação como uma forma de iniciar uma conversa com alguém interessante. Eu garanto que falar sobre os cabisbaixos substitui com sucesso os famosos "Você vem sempre aqui" ou "Te conheço de algum lugar".

domingo, 25 de setembro de 2011

Week-end!

Os super nacionalistas e anti-americanos, também conhecidos como franceses, são um tanto quanto engraçados. Muita gente sabe que os parisienses, por exemplo, são: 1) mal humorados; 2) mal educados e 3) cheios de si.

A começar pelo próprio vocabulário. Já viu o título do post? Então, é assim mesmo que os novos gauleses se referem ao final de semana, definição que até nossos ancestrais lusitanos nos deram de presente, refutando a adoção de uma expressão estrangeira (mesmo sabendo que, sim, nossa língua portuguesa é formada por outras línguas como o latim e o grego). O mesmo acontece com o football e t-shirt. Nós, lusófonos, tivemos a perspicácia de aportuguesar o primeiro e inventar um nome para a segunda. Ponto para nós.

Mal humorados porque mesmo com o melhor verão dos últimos anos, segundo amigos que residem aqui há anos, eles ainda insistem em reclamar do céu cinza e do inverno que está próximo, mas ainda nem bateu à porta. Se bem que, ao contrário do que dizem, a maioria dos franceses está diariamente, quando o tempo permite, frequentando algum parque para tomar sol naquelas pernas que mais parecem ter saído de vidros de palmito.

E mal educados porque são, e ponto. Um exemplo que aconteceu mais de uma vez comigo. Entro numa brasserie ou loja, ou onde for, e sou recebido com um meio-sorriso convidativo, daqueles que você recebe de gente que quer apenas seu dinheiro e não sua simpatia. Na hora em que abro a boca para pedir informação (e não comprar algo), eles literalmente viram as costas e me deixam falando sozinho.

Disse aos amigos da escola que, quando me deparar com essa situação, eu deveria contar para eles a história do casal de franceses que foi morto no Rio de Janeiro quando, por informação errada, foram parar numa favela. Eu deveria explicar que se eles não forem legais comigo, isso pode acontecer com eles quando forem visitar o Brasil. Utilizar a espiral do medo, que tanto ouvi no jornalismo, seria uma forma de convencer esse povo a ser mais prestativo.

Por outro lado, tem vezes que eles são bem prestativos...até demais. Me irrita quando um garçom francês percebe que não sou daqui e responde minhas perguntas em inglês, mesmo comigo me desenrolando ao falar francês. Cadê a arrogância e a repulsa à língua das ilhas da Rainha Elisabeth? Enfim, um pouco frustrante... ou simplesmente sinal de que eu estou indo aos lugares errados, onde turistas chovem à beça.

Enfim, mas isso foi só uma negativa introdução para uma coisa boa. O meu week-end foi de descobertas boas. Primeiro, um bar à vins com preços módicos e uma atmosfera muito muito legal, mas não lembro do nome. A segunda, outro bar à vins que não tem uma carta de vinhos, pois para escolher uma garrafa basta você ir até uma enorme estante dividida por regiões da França, em meio de caixas e caixas de vinho, e pegar sua garrafa. Legal, não é?? E os preços também não são ruins.

O melhor daqui é que o vinho nacional é bom. E também barato. Então comprar uma garrafa de vinho no supermercado por 6 euros não é sinal de dor de cabeça e vinho ruim. Muito pelo contrário. Geralmente a gente se surpreende, e até passa por cima da falta de educação deles. 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Champignons tournés

Taí uma habilidade que ainda não tenho em cozinha: "tourner" champignons.

Sei confitar, gratinar, preparar peixes e carnes, sobremesas, fazer purês, massas e muito mais. Mas fazer isto que o sujeito faz abaixo:


...foi praticamente impossível de primeira. E segunda...e terceira...tá doido, viu!?

Ele faz parecer super simples, assim como fez o chef Bruno Stril, do Cordon Bleu. Mas até eu pegar o jeito de chegar nesse resultado, ainda vou gastar muito dinheiro com champignons de Paris!

Fiz 6 champignons hoje, mas não tive coragem de postar foto de nenhum deles, pois não há UM que esteja de longe parecido com esse do vídeo.

Courage!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Prática

Havia pouco mais de dois anos e meio que eu não "tournava" qualquer vegetal. Nos meus anos de commis chef, no Harvey Nichols, em Dublin, o chef gostava de todo tipo de legume "tournée". Foram pouco mais de dois anos fazendo esse tipo de corte em batatas, abóboras pescoçudas (que geraram o meu pior corte entre todos na carreira), alcachofras de Jerusalém, cenouras, courgettes...enfim... a lista é grande.

E assim como uma língua, não ter o hábito de usar uma técnica de cozinha, seja ela qual for, te deixa enferrujado.

Hoje, tivemos que fazer Paupiettes de Veau, um bife a rolê com nome chique, e como guarnição tivemos que "tourner" cenouras.

Fiz as minhas. Até que não ficaram ruins, considerando o tempo em que deixei de empregar essa técnica. Mas ainda sim o chef Franck Poupard, que sabe que eu sou um dos poucos chefs com experiência na sala, pegou uma cenoura, "tournou" e colocou do lado de uma que eu tinha feito. Olhou pra minha cara e disse: Bonne chance!

Depois do prato feito, ele pediu para que eu, assim como os outros alunos da sala, praticassem mais essa técnica.

Não tive dúvidas: fui ao marché e comprei 3 batatas e 1 cenoura. E adivinha o que teve pro jantar hoje?





O pessoal da sala ainda foi mais longe e disse que vamos organizar uma festa na casa de alguém e ao invés de música e bebida, a festa será para tourner vegetais e, talvez, fazer um jantar com um monte de legumes bonitinhos! Eu ainda seguirei praticando! Ainda voltarei à velha forma! 

domingo, 18 de setembro de 2011

Crème + beurre

Castela, muitos séculos atrás. 

Os navegadores espanhóis viajam o novo mundo, colonizando povos, introduzindo uma nova religião e saqueando seus bens naturais, levando as riquezas dos povos pós-colombianos de volta à coroa. Em resumo, foi mais ou menos o que os portugueses fizeram com o Brasil, mas em uma proporção estupidamente maior, já que 90% da América Latina fala espanhol ou qualquer outro idioma que deriva deste, resultado da derrocada castelhana no novo continente. Essa história é conhecida por qualquer pessoa que frequentou a escola depois de 1822. 

Agora, uma história que poucos sabem é o fruto da pesquisa de um jovem visionário holandês, Mr. Van Sarijvaa. Por meio de estudos de documentos e sítios arqueológicos, o estudioso neerlandês descobriu que na sociedade castelhana quem não era nobre e alfabetizado era, em grande parte das vezes, subjugado a viver na condição de servo da coroa espanhola. E, ainda baseado em pesquisas, pode-se dizer que os membros da realeza tinham hábitos tanto quanto hedonísticos, pois eram amantes das artes, das mulheres (e mulheres, dos homens, ou mesmo outras mulheres....enfim...) e, claro, da boa mesa. Agora, pare um pouco para contemplar esse cenário: você é o rei da Espanha. Todos seus navegadores estão fora buscando riquezas para o reinado; Napoleão ainda não veio encher o saco na sua fronteira; seus servos não estão aprontando uma revolução; sua guarda armada não pretende lhe degolar e dar um golpe para tirar suas nádegas do trono. Resumindo: tá tudo de boa, campeão! O que fazer para preencher seus dias de rei, que andam tão chatos? 

Simples: traga mulheres, teatro, bobos da corte e muita, mas muita comida!!!! E foi nisso que a pesquisa de Van Sarijvaa se concentrou: como se alimentava a realeza nessa época. A ordem do rei era clara: ele queria provar todos (ou a maioria) dos sabores da Espanha e ordenava que seus servos extraíssem o que suas regiões ofereciam de melhor e apresentassem à coroa pratos que representassem suas origens. Assim foram concebidos pratos típicos como a paella valenciana , crema catalana e a tortilla espanhola, por exemplo.

Como eram obrigados a fazer esse tipo de apresentação à coroa, os servos, assim denominados, não estavam muito contentes com essa situação. Então, decidiram que cozinhariam os pratos menos quistos em suas regiões para a corte real e guardariam a real cozinha espanhola em segredo, que seria passado de geração para geração, mas jamais revelada à nobreza. Pois bem... o único problema é que esse legado nunca foi escrito em papel, afinal as classes inferiores à nobreza eram analfabetas. Então, a fantástica cozinha espanhola foi transmitida verbalmente apenas.

Mas vocês sabem como essas coisas nunca dão certo, né? Claro que no país Basco, algumas décadas depois, a história saiu do controle e foi cair na França, até então produtora exímia de vinhos e produtos derivados do leite. Rapidamente a notícia correu até os ouvidos de um rapaz esperto, letrado e amante da gastronomia. Seu nome? Auguste Escoffier. Com permissão do exército da era pós-napoleônica, Escoffier levou tropas até a Espanha e literalmente sequestrou centenas de camponeses de diversas regiões em busca de suas receitas e um lugar de destaque na história da França.

Os espanhóis foram forçados a passar todo seu conhecimento gastronômico a Escoffier, que anotou e organizou todo esse trabalho. Após conseguir o que queria, todos os camponeses foram executados a mando do ganancioso Auguste, que logo começou a testar receitas e métodos da rica culinária espanhola. E tão logo percebeu também um problema: se Escoffier começasse a chamar aquela gastronomia de francesa, logo os espanhóis ouviriam a respeito, informariam ao rei e o estado de guerra seria iminente, algo que a França não queria logo após o revés de Napoleão na Rússia.

A solução veio dos campos. Sem ter mais o que fazer com tanto leite produzido no país, já que já estavam catalogados centenas de tipos diferentes de queijos franceses, Escoffier resolveu apostar no uso de seus derivados e colocou, em todas as receitas que tinha arrancado dos espanhóis, creme e manteiga. E assim nasceu a aplaudida gastronomia francesa: do casamento dos sabores e técnicas espanhóis com os laticínios franceses. É o caso do Sole Meunière, por exemplo. Na Espanha, o Lenguado con limón era um dos pratos favoritos da primavera na região do Mediterrâneo. Hoje, é conhecido como uma das bases da culinária francesa. 

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Agora, diga uma coisa: não fossem as brechas nas informações históricas, a pobre adaptação do meu nome para um nome holandês e uma pesquisa que eu duvido que tenha fundamento, essa seria uma boa explicação para o fato da gastronomia francesa usar tanta manteiga e creme de leite em sua base, não é???

E por favor, mil perdões aos franceses e a Auguste Escoffier, afinal a história acima NÃO é verídica! Eles são, sim, gênios da gastronomia tradicional e contemporânea!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Consommé

Nada de post, só um registro. Mesmo com 4 anos de experiência em cozinhas decentes na Europa, sempre escutei de diversos chefs que fazer um consommé era uma tarefa complicada. Claro, fazer um consommé clarinho e gostoso não é pra qualquer um, mas o processo de clarificação de caldos é mais simples do que eu imaginava. Basicamente depende de você fazer uma boa "masse de clarification" e deixar que esse bolinho de um monte de coisas juntas faça todo o trabalho. Tudo o que você tem que fazer é ajudar o bolinho a fazer seu trabalho, regando-o com o líquido a ser filtrado.

O mesmo se aplica à pâte feuilletée. Não é difícil, como muitos dizem por aí, mas sim trabalhoso. O resultado depende diretamente do cuidado que você tem com a massa e o respeito aos tempos de resfriamento e rolagem da massa. Veja você mesmo este allumette feuilletée au fromage.



A desmistificação é algo que nos faz abrir os olhos e ver que, sim, os franceses são os melhores em técnica.

Merci, Ms. Auguste Escoffier! 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Rock

O Rock e eu temos história. Na verdade, ele tem história em minha vida, afinal quem sou eu perto desse magnânimo ente que só pode ter sido criado por um semi-deus? A verdade é que ninguém nesse mundo consegue viver sem música, que seja uma batucada com as mãos na mesa de trabalho, sejam os sons de uma cidade, seja uma canção. A harmonia (ou desarmonia) nos agrada desde os primórdios. 

Tem gente que escolhe MPB, pagode, axé etc. Eu não escolhi nada. O Rock me escolheu quando, ainda bem novo, me permitiu gostar do que seria meu primeiro CD desse gênero: RPM ao vivo! Aos 6 ou 7 anos de idade, gostar de RPM é sim um sinal divino de que o Semi-Deus criador de todos os riffs tocou meus meus ouvidos e plantou uma micro-guitarra e um micro-amplificador no meu cérebro. Obrigado, Semi-Deus, este que se manifesta ora como Zakk Wylde, ou Dave Mustaine, ou Dimebag Darrell, ou Joey Ramone... enfim, é uma lista ad eternum.

No Brasil, não me lembro de ter ido a algum show grande de alguma banda que eu sempre quis ver ao vivo. Já fui sim a vários shows enquanto morava por lá, mas eram shows menores ou de coisas que estavam em alta na época. Minto! Já fui em três shows que eu quis sim! Garotos Podres e RxDxPx, ambos em Londrina e Wilson Sideral, no litoral paranaense. Mas me arrependo de não ter guardado recordações, coisa que hoje faço todas as vezes. Quando vou a um show, o ingresso fica arquivado. É o que eu chamo de memorabília pessoal do Rock!

E foi ao chegar na Europa que eu consegui ver esses sonhos realizados, afinal essas bandas sempre viajam o velho continente, mas nem sempre o Brasil. Meu primeiro de todos foi o Korn. Apesar de já desmembrado, Jonathan Davis, Fieldy e Munky ainda estavam lá. E foi muito bom ouvir Twist, Chi, Got the Life etc ao vivo! Pena que não guardei esse ingresso. E não guardei de mais dois shows: Blur, no Hyde Park em Londres (show pra mais de 100mil pessoas no reencontro deles após anos separados...não tenho o ticket, mas o show foi lançado em DVD e eu tenho!) e Blink 182, que basicamente foi minha adolescência, quando o pequeno Rodrigo tocava (mal) baixo e cantava (mal) na Not OK, banda cover de punk rock, junto com meus amigos Ester, Diegão e Maurício.

Hoje, a memorabília segue bem, obrigado! 

Um show impossível de esquecer foi o do Slipknot, aberto pelo Children of Bodom e Machine Head. Primeiro, porque foi em Amsterdam e eu viajei só pra ver esse concerto, que de épico não tem nada, mas de energia do novo metal (não confundam com Nu-Metal) foi completo. E, segundo, foi lá que eu conheci o Machine Head, uma das melhores novas bandas de metal hoje. 

Teve um show do Oasis, na última turnê que eles fizeram antes da dissolução e o Liam Gallagher formar o Beady Eye. O show foi no Heaton Park, em Manchester e se tem algo que nunca desgrudou da minha memória foi o Noel Gallagher cantando "Don't look back in anger" sozinho no palco. Essa versão está no CD Time Flies, uma coletânea lançada logo antes do Oasis acabar. 

Teve um show épico do Sepultura em Dublin, Irlanda. Foi o show que eu fiquei o mais próximo possível de uma banda em toda a vida. Eu estava, literalmente, a um braço e meio de distância do palco. Logo após Escape to the Void, o guitarrista e tricolor Andreas Kisser,  estende o braço em minha direção e, na minha mão, entrega isto:

Não preciso nem dizer que ela é uma palheta de estimação, que fica na cabeça da minha guitarra.

E talvez o maior de todos os show, e o último até agora, foi passar um dia inteiro, debaixo do calor de 30 e poucos graus em Milão pra ver minhas 4 bandas favoritas tocando no mesmo dia. Para mim, Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax definem o Rock. E nesse dia, passei 8h e uma quase desidratação para ver meus ídolos. Adoraria me estender aqui, mas acho que acabarei criando uma nova sessão para o blog, no mesmo tom do "Experiências". Então, mais sobre essas experiências mais pra frente.

O Rock me fez e faz experimentar emoções que nenhum outro ritmo consegue: o choro, a alegria verdadeira, prazer, entre outras. A única emoção que nunca poderei experimentar, infelizmente, é ver uma Dean tocada ao vivo pela lenda do heavy metal, Dimebag Darrell, já que o Pantera acabou há anos e esse foi o motivo de seu assassinato. Rest in Peace!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Le premier bonheur du jour

Ou, em português, a primeira alegria do dia.

Interpretada pelos Mutantes, essa canção é, na verdade, de autoria de uma cantora francesa chamada Françoise Hardy, dos anos 60. É uma música curtinha que fala sobre alegria e tristeza. Mas não vou me aprofundar muito nisso, pois eu lá tenho cara de crítico musical? Para chegar nesse nível, eu preciso começar a mexer com drogas pesadas, como Justin Bieber, NX Zero e qualquer pagode, sertanejo e funk carioca encontrados no mercado. Afinal, que crítico musical que vemos por aí hoje nunca produziu um grupo e/ou artista (artista?) tosco desses?

Enfim, à alegria. Como alguns já sabem, eu moro em Paris por um motivo muito específico: estudar culinária em uma das maiores e mais renomadas escolas do mundo, Le Cordon Bleu. E o trabalho de chef de cozinha é árduo, mas hoje eu entendo que ele é muito mais gratificante do que meu antigo métier  de jornalista.

Abre parênteses. Eu sempre gostei muito de comunicação e sou admirador do bom jornalismo há anos. Mas desde o terceiro ano de faculdade, na UEL, eu já sabia instintivamente que seria muito mais interessante ser jornalista somente nas horas vagas ao invés de fazê-lo como meio de vida, pois infelizmente o dia-a-dia corrói o jornalista sério. Sabe o médico que quando não está de plantão está cozinhando para os amigos? Pois é, eu gostaria de ser o chef de cozinha que periodicamente escreve algumas linhas para alguma publicação. Fecha parênteses.

Mas aí você pergunta: como que trabalhar com facas mega afiadas, muita pressão pela perfeição e por horas longas pode ser melhor que a busca da verdade e a defesa dos interesses da sociedade? 

A resposta NÃO é simples, mas sim concisa: resultado. O trabalho na cozinha tem resultados imediatos e isso permite que você adapte sua técnica a fim de melhorar o produto do seu trabalho. Ou seja, não deu certo? Faça outra vez! E faça melhor! E mais rápido! Dessa maneira, você literalmente enxerga o desenvolvimento profissional se desdobrando diante de seus olhos. E saber que você está crescendo é sempre, mas sempre importante! Claro, se você não está crescendo para os lados porque come tudo o que cozinha nas aulas! 

Mas por quê tudo isso, Rodrigo? Só pra contar algo que aconteceu hoje de manhã na minha aula prática, meu premier bonheur du jour. Existe uma massa em pâtisserie que se chama Pâte Feuilletée, a massa folhada. Normalmente, qualquer ser humano vai ao supermercado e compra ela pronta, já que a confecção é trabalhosa e meio que frustrante, pois é muito mais fácil de errar uma massa dessas do que acertar quando não se está acostumado a fazer esse tipo de coisa sempre.

Enfim, a minha estava feita, cortada e prestes a entrar no forno a 200ºC. Abri o forno, coloquei, e torci muito para dar certo. 

E sabe o que foi abrir aquele forno, 10 ou 15 minutos depois, e ver aquelas massinhas crocantes, altas e coradas?

Foi mon premier bonheur du jour!


Ouvindo: Os Mutantes, Live at Barbican Theater.

domingo, 11 de setembro de 2011

Releitura

Antes de começar um novo blog, é sempre interessante olhar para trás e ver o que já foi feito. Usar essas informações do antigo (ou dos antigos) blog(s) como uma forma de recuperar alguma parte do passado, relembrar épocas da vida e moldar o que virá adiante.

Hoje li meu antigo blog, "Banho Tcheco na Irlanda (que não faz parte do Reino Unido)". Primeiramente, lembro até hoje de como o nome surgiu. Obrigado, Tio BB, meu padrinho, por sempre ser uma das pessoas mais engraçadas que eu conheço. Até onde eu sei, o dia-a-dia dele é bem sério no escritório onde trabalha. Então, de onde vem a graça toda? Certamente ele deve ser advogado de uma companhia de comédia Stand Up!

Mas o BTnI(qnfpdRU) trouxe ao topo da minha memória algumas coisas das quais eu quase não lembrava mais. O início do blog e a típica falta do que escrever, algumas reclamações sobre situações típicas do Brasil, umas reflexões sobre valores e momentos da vida, a antecipação do que seria morar pela primeira vez fora do país e, por fim, um relato de alguma experiências em solo europeu. Basicamente eu falei sobre o começo em uma nova profissão, alguns flashes sobre a cultura e gastronomia local e a parte a qual eu me dediquei relativamente bem: os quadros "Experiência", tanto etílica quanto gastronômica.

Rever tudo isso foi nostálgico e, ao mesmo tempo inspirador. Imagino que vou manter a mesma linha de blog que fazia antes, não para aglomerar leitores (que sempre foram poucos, mas fiéis e queridos), mas para um dia, quando eu estiver criando um outro blog, ou mesmo relendo o passado deste aqui, eu me sinta da mesma forma que me senti ao ler o antigo: que o tempo passou, as memórias estão registradas e eu evolui pessoalmente (e profissionalmente).

Este blog, o Bistrot du Coin, vai narrar minha vida na França, bem como minha profissão, que está intimamente ligada com os gauleses. Mas uma coisa que fiz no outro blog eu não vou fazer neste: prometer regularidade de posts. Eu escrevo quando quero, quando estou inspirado, então a regularidade será de acordo com o meu humor. Afinal, eu preciso passar mais tempo vivendo e adquirindo experiência para ter algo de interessante pra contar aqui!

Enfim, agora sim a fita inaugural deste blog foi cortada. Garrafa de champagne, alguém?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Antes de qualquer coisa...

... sou Rodrigo Saraiva, 29 anos e moro em Paris. 

Por Rodrigo Saraiva entenda: um cara que já foi o gordinho quase que segregado da turma da escola primária (devo ter sofrido bullying sim, mas não precisei processar ninguém por isso, não cresci traumatizado e, acreditem, sou um adulto normal!); filho, neto, irmão, sobrinho, primo querido; adepto do clichê "gosto das coisas boas da vida", por mais batido que ele seja; seguidor do rock e ativo frequentador de shows, os quais ainda, um dia, vou descrever pros meus bisnetos; jornalista formado e especialista pós-graduado em Administração em Marketing e Propaganda que, um dia, tocou o foda-se pra um ex-chefe e deixou o penoso jornalismo diário brasileiro de lado em busca de uma nova profissão; duplo-cidadão que escolheu viver no velho mundo, mesmo que seus amores estejam a um oceano de distância. 

Por 29 anos entenda: 18 anos vivendo com os pais + 7 anos morando sozinho pela primeira vez em Londrina-PR + 4 anos como imigrante em Dublin -Irlanda + poucas semanas morando em Paris - França.

E moro em Paris, pois é o curso natural da minha profissão. Não estou aqui pelo mesmo motivo que muitos, como ver a torre Eiffel, um salário em euros ou um curso de línguas. Estou aqui pra aprender outra linguagem: a da alta gastronomia de verdade. E imagino que esta será a serventia deste blog: serão as impressões gastronômicas e culturais que fazem daqui o destino obrigatório de quem ama o que faz, assim como eu.