quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cabisbaixo

Calma, cocada! Não sou eu que estou assim não. Muito pelo contrário, meu mês e alguns dias em Paris até agora foram muito produtivos. Estou na metade do meu curso básico no Cordon Bleu, vendo e aprendendo várias coisas sobre gastronomia francesa; moro num lugar perto da Tour Eiffel; e logo mais começo a trabalhar como extra num hotel da rede em que eu já trabalhava em Dublin. Marravilha, como diria Claude Troisgros.

Mas cabisbaixos andam os europeus, de um modo geral. Não é a crise no bloco comum, iniciada pelos gregos e que se alastrou por Irlanda, Portugal e quase quase Espanha que faz com que os cidadãos do velho continente descansem seus queixos sobre o topo do osso esterno. O Rock in Rio ser no Rio, e não em Madrid ou Lisboa, também não é o que influencia esse comportamento europeu.

Na verdade, o motivo pra mim não interessa. O fato é que é só você sair na rua e olhar para as pessoas: sempre caminhando com o olhar voltado para o chão. Não, aqui não é como o Rio de Janeiro onde bueiros explodem ou a zona de conflito no mundo árabe, onde as pessoas pisam em ovos para não pisar em minas terrestres.

Todos os dias, quando piso na rua, percebo que se eu não estou olhando pra frente e prestando atenção nos françolas, eles não me vêem e quase trombam em mim. Mesmo com uma pesquisa de não sei onde que sugere que pessoas que andam pelas ruas olhando para frente tendem a ser mais criativas e expressivas, os europeus geralmente preferem olhar para a calçada. Olhar para os dois lados da rua antes de atravessar, então, esqueça!

Estariam eles procurando moedas? Notas de euro?

Estariam eles procurando algo novo para comer, a exemplo dos escargots?

Enfim, eu posso estar muito enganado, mas não me lembro de pessoas cabisbaixas no Brasil. Seria o constante estado de alerta em que caminhamos nas ruas de São Paulo, por exemplo, que nos deixa sempre de olho em tudo?

Cá está um registro de algo que eu reparei há muito tempo e nunca comentei com ninguém. Olhe ao seu redor quando estiver na rua e repare. E se você achou que foi inútil perder seu tempo lendo estas linhas até aqui, pense sempre que você pode usar essa informação como uma forma de iniciar uma conversa com alguém interessante. Eu garanto que falar sobre os cabisbaixos substitui com sucesso os famosos "Você vem sempre aqui" ou "Te conheço de algum lugar".

3 comentários:

  1. Carinha, duas coisas muito importantes:
    1. Estou muito feliz com a notícia do trabalho. Me escreve contando. Estou chegando em casa as nove da noite e não dá para te ligar.
    2. Os franceses sempre andaram cabisbaixos, olhando para o chão. Paris é a cidade onde tem o maior número de cachorros que cagam na calçada e seus donos não recolhem.
    te amo, bjo

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  2. Além do motivo que o Rui citou ... o parisiense ta sempre com pressa e pensando na sua propria vida. Sempre faço a experiencia de tentar cruzar olhares ... impossivel!!! o povo aqui nao se olha!!! Eu acho isso triste ... sem vida ... uma pena, numa cidade tao linda e com tanta gente diferente as pessoas nao ficarem de cabeça erguida!!!
    Bjs

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  3. Ah...se bem que hoje tive uma experiência engraçada. Estava eu passando com meu tupperware cheio da comida que fizemos na aula prática (o contrafilé assado) e quase todo mundo que cruzava comigo olhava pra ver o que tinha dentro. Teve até um cara que passou por mim, abriu um sorriso e disse: "Mais c'est bon ça!". Hahahaha...só passando com comida mesmo na frente deles pra rolar um contato. O resto do tempo é sempre cabisbaixo!

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